PALESTRAS
Palestra 1 - Vozes poéticas dos anos 80: o movimento dos escritores independentes e a retomada da oralidade
Palestrante: Eduardo Martins, professor adjunto da Universidade Federal de Rondônia e Mestre em Teoria Literária pela UNESP. Publicou o ensaio “Bandeira, uma poética de múltiplos espaços” e os livros de poemas “Restos do fim”, “Eczema no Lírico”, “Procissão da palavra” e o “Lado aberto”, entre outros. Atualmente em Porto Velho - Rondônia, prepara a edição de seu novo livro de poemas: “A PALAVRA FALTA”, além de um estudo sobre a produção literária do Movimento dos Escritores Independentes de Pernambuco e outros dois sobre a poesia de Alberto da Cunha Melo e Francisco Espinhara, respectivamente
Os Independentes no Centro do Recife
por Eduardo Martins
Este texto é uma homenagem que faço aos que, de alguma forma, participaram do Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco, por isso mesmo peço desculpas pelos lapsos de memória deste autor. Em especial quero prestar minha homenagem aos poetas Alberto da Cunha Melo, Erickson Luna e França, com quem tive o privilégio de conviver e partilhar alguns dos mais importantes e ricos momentos literários do Recife: os anos 80. Ao meu grande amigo Francisco Espinhara que hoje certamente está junto às estrelas do céu, para justificar seu histórico de ranzinza, resmungando contra mim por algum deslize cometido no texto. À Fátima Ferreira, Héctor e Cida, por tudo que a história pode contar, mas principalmente pelo que pode omitir.
Eduardo Martins e Francisco Espinhara - Récita Poética - Síntese (1983)
Algumas questões não podem ficar de lado ao falarmos sobre o Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco, na década de 80: o grupo que o originou, as relações do Movimento com os meios acadêmicos (faculdades e universidades), com as escolas secundaristas (Colégio 2001) com as ruas, em particular as ruas do centro de Recife, com as editoras (oficiais e alternativas) e com as principais livrarias da cidade: a Reler, a Livro 7 e a Síntese. Além das relações com a imprensa falada e escrita, leia-se, o Jornal do Commercio e o Diario de Pernambuco e, finalmente, com os movimentos de arte popular, entre eles os de literatura, na Fundação Casa das Crianças de Olinda, abrigo dos cordelistas e emboladores da região e onde ocorreram os encontros regionais e nacionais dos Independentes.
Resgatar estas questões é importante se considerarmos que esta é uma geração que chegou sem apadrinhamentos e foi recebida com uma desconfiança gratuita pela geração anterior, pela mídia e pelos “críticos” da época, se é que podemos falar assim. Uma geração que teve como ponto principal não os bares de classe média da Rua 7, mas os botecos do Beco da Fome, não as livrarias consagradas, mas as ruas, não a escrita, mas a oralidade, muito embora sua atuação não se restringisse a um meio de interação específico. Uma geração que buscou seu espaço levando e dando porrada, sem qualquer padrinho de renome para ampará-la.
Neste sentido, se não por acreditar na importância do Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco para a composição do mapa literário do Estado, temos de resgatar este período por coerência e compromisso, idoneidade e retidão para com a história literária de Pernambuco.
Encontro Nacional de Escritores Independentes em Fortaleza-CE (1981)
Os primeiros passos do Movimento estão ligados à reunião de escritores novos ocorrida em Salvador-BA, durante o I ENEL, Encontro Nacional de Estudantes de Letras, da qual participaram Francisco Espinhara e Eduardo Martins a quem se juntaram, no retorno, Cida Pedrosa, Fátima Ferreira e Héctor Pellizzi, fechando aquilo que viria a formar o grupo embrionário dos Independentes, e daí aos muitos outros que surgiram ora em atitudes de apoio, ora em adesão, entre eles Amara Lúcia, Marcelo Mário Melo, Maria Celeste, Samuca Santos, Geni Vieira, Romana, Caesar Sobreira, Lenilda Andrade, Jorge Lopes, Don Antônio, Luis Carlos Monteiro, França, Erickson Luna, Azimar Rocha, Raimundo de Moraes, Valmir Jordão, Celso Mesquita, Wilson Freire, Jailson Marroquim, Joaquim Cezário de Mello, Inaldo Cavalcanti, Cícero Melo, Jayme Benvenuto Júnior, Sérgio Lima e Silva, Lara, Pedro do Amaral Costa, Adelmo Vasconcelos, Wadson de Paula, Dôra Gusmão, Juhareiz Correya, Dione Barreto, Claudionor Loyola, Manuzé, Ricardo Antunes, Tales Ribeiro, Josualdo Menezes, Mônica Franco, Avanilton Aguilar, Sérgio Lima e Silva, Wilson Mota (Miltinho), Jorge Verdi, Marcílio Medeiros, Belmar... que viam na irreverência dos Independentes e em seu poder de mobilização uma nova postura diante da produção literária. Visualizaram ainda nesta nova postura, o renascer das ruas do centro do Recife naquilo que lhes é mais marcante: a efusão lírica, já que àquela época, além de ostentarem belos nomes, as ruas eram símbolos da resistência ao odor de urina, dos restos de frutas e da miséria no chão que passou a se confundir com a beleza do Capibaribe e, consequentemente, da cidade. Os primeiros eventos se deram na Livraria Reler, com o apoio do professor e “sebeiro sabido” Pedro Américo de Farias, um dos poucos simpatizantes às idéias do Movimento em seu início. Aliás, Flor Pedrosa e Pedro Américo de Farias acompanharam alguns dos Independentes antes mesmo do movimento se definir enquanto tal, apoiando e fazendo editar no colégio secundarista 2001 o caderno de poesia intitulado Momento Poético em que aparecem publicados os primeiros poemas de Eduardo Martins, Cida Pedrosa, Lydia Barros, Raimundo de Moraes, entre outros.
Eduardo Martins e Cida Pedrosa - Lançamento do livro
Restos do Fim - Praça do Sebo Rua da Roda (1982)
Posteriormente a estes fatos começaram os recitais em frente às Lojas Americanas, na Rua Sete de Setembro, todos os sábados pela manhã, momento em que os poetas tomavam as ruas do centro da cidade e ocupavam os hidrantes fazendo jorrar a poesia. Eram muitos os eventos, e mesmo a mídia indiferente e mesquinha de Pernambuco não conseguiu mais silenciar: OS INDEPENDENTES CHEGARAM!!! Chegaram e alteraram completamente o cenário literário do bem comportado Recife dos anos oitenta, mas o preço seria alto, muito alto para a geração. Avaliações precipitadas por parte da “crítica” comprometeram o conhecimento da completa produção literária da época, embora alguns formadores de opinião como César Leal (Caderno Viver-DP), Lucila Nogueira (Geração 65/UFPE), Ângelo Monteiro (Geração 65/UFPE), Marco Camarotti (UFRPE), Paulo Azevedo Chaves (POLIEDRO-DP) e o maior incentivador dos Independentes, o poeta Alberto da Cunha Melo contestassem estas “avaliações” precipitadas, realizadas por muitos antes mesmo da leitura da produção em questão, um preconceito gratuito que os jovens sofreram acompanhado de toda espécie de desconfiança e discriminação sem sentido por parte dos detentores do poder cultural oligárquico do Estado. No entanto, os Independentes continuaram e invadiram os meios acadêmicos, levaram a produção pernambucana para as universidades e as escolas. A Fafire foi palco de vários eventos dos Independentes, também a UFPE e a Unicap. Os bares, as portas de cinemas e os teatros já não conseguiam mais ignorar a presença dos escritores. Eles estavam em todos os cantos e recantos, mas centralizavam na Praça do Sebo, na Rua da Roda, seus lançamentos coletivos e, na Síntese, na Rua do Riachuelo, com o apoio e a generosidade da livreira Sueli, seus lançamentos individuais.
Recital em frente as Lojas Americanas - Rua 7 de Setembro
Samuel Santos e Don Antônio (1983)
Se a Livro 7 foi essencial para a consolidação da “Geração 65” de poetas pernambucanos e não deixou de ter sua importância para os Independentes, a Síntese, a Praça do Sebo, o Beco da Fome e a frente das Lojas Americanas na Rua Sete de Setembro (cujo gerente fazia jogar sobre os poetas baldes e mais baldes de água com o intuito de parar os eventos literários aos sábados) foram o eixo da Identidade dos Escritores Independentes junto com as ruas do centro da cidade. Aí o Movimento chegou a lançar 29 livros em um só ano, e fez circular mais de 10 jornais nanicos, entre eles o Americanto, o Lítero-Pessimista, o Contágil, o Mandacaru, Cochicho, o Poética, o Cântaro e o Poemar, que se tornaram mais conhecidos em virtude de uma participação mais ativa de seus editores.
Se os jornais e os livros eram importantes para a consolidação dos espaços e da produção artística do Movimento, outras frentes foram organizadas no sentido de abrir trincheiras para a “batalha pelo poema” que os poetas travavam diariamente e que se tornou um dos folhetos lançados em conjunto por Eduardo Martins, Francisco Espinhara e Pedro do Amaral. Entre estas atividades destacam-se: feiras de livros, varais, exposições de pôsteres-poemas ilustrados, recitais, chuva de poesia, happenings e performances que tomam conta do centro histórico e revitalizam não seus esqueletos de concreto, mas a essência transubstanciadora da cidade. Uma real apologia ao que de mais singelo e cristalino representa a cultura recifense: o lirismo.
Uma verdadeira embolia de muita coisa que parecia morta em nossa cultura ressurge com força e magia pelas mãos e pela voz da juventude em espaços gerados com apoio dos que souberam recepcioná-los, entre eles: Sueli, da Síntese, que teve por diversas vezes a frente e adjacências do estabelecimento ocupadas pelos Independentes em lançamentos, recitais e exposições de poemas, além de outros que foram conquistados de assalto pelo Movimento, como a Rua da Roda.
Sueli Pereira proprietária da Livraria Síntese (1983)
Neste período, Alberto da Cunha Melo ressalta, em sua coluna, no Jornal do Commercio, a importância do trabalho do Movimento no que diz respeito ao resgate da oralidade da nossa poesia. Tal traço artístico vem da tradição das raízes populares tão próximas do Grupo nos eventos que se seguiram na Fundação Casa das Crianças de Olinda: os repentistas e os emboladores.
O Movimento dos Independentes cresceu vertiginosamente, a despeito do preconceito e da ignorância de quem chegava a duvidar de sua existência enquanto movimento. Incorporou outras artes como a música, a pintura e a charge. Abriu novos leques de interação, mas com a mesma velocidade com que cresceu o Movimento sucumbiu, após a dissolução do grupo embrionário, por volta de 1987, com a saída de Eduardo e Espinhara para Rondônia, Cida para o interior de Pernambuco, Héctor para o Maranhão e o afastamento de Fátima das rodas literárias da época.
Integrantes do Movimento no lançamento do livro Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco 1980/1988 de Francisco Espinhara (2000)
Como todo movimento destituído de seu referencial de organização mínima e possuindo muitos adeptos de ocasião, os Independentes viram inúmeros de seus sonhos se atolarem na imensidão dos mangues do Recife e assistiram caroneiros e oportunistas de plantão se vangloriarem de uma pseudo participação no Movimento que muitos viram inicialmente com ironia, mas posteriormente, quando a cidade parecia já ter assimilado sua existência e seus rompantes obtinham referências positivas dos meios acadêmicos e da mídia, prestando depoimentos como partícipes ou incluindo-se numa história que não lhes pertencia. Por isso e por muito mais que isso, acreditando que o mundo dá suas voltas e que é necessário retomar o passado em suas águas mansas, resolvemos insistir neste resgate, porque as águas passadas, ao contrário do que muitos pensam , só movem moinhos, intermináveis e ininterruptos, profundos e ágeis como estes ventos que nos sopram os ares da história a renovar e reler esses tempos de “juventude e fé”.
Palestra 2 -
A Literatura contemporânea como diálogos cotidianos
Palestrante:
DRª MILENA CLÁUDIA MAGALHÃES DOS SANTOS GUIDIO
Possui graduação em Letras Português/Literatura pela Universidade Federal de Rondônia (1999), mestrado (2002) e doutorado (2008) em Teoria da Literatura pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - IBILCE/Unesp, com estágio na Université Paris VIII. Atualmente, é professora na Universidade Federal de Rondônia - Campus de Vilhena, na área de literatura e líder do GEPEC - Grupo de pesquisa em Poética Brasileira Contemporânea, coordenando o projeto O regional como questão na literatura brasileira contemporânea, com auxílio do CNPq.
Patestra 3 - Literatura infanto juvenil ou simplesmente literatura.
Palestrante:
Maria Enísia Soares de Souza
Possui graduação em Letras (1992), especialização em Metodologia do Ensino Superior (2001) e mestrado em Linguística pela Universidade Federal de Rondônia (2004). Atua, principalmente, como docente de Português Instrumental em cursos superiores e de Língua Portuguesa e Literatura em cursos pré-vestibular e para concursos. Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Semântica e Filosofia da Linguagem.